Na edição da Olimpíada da Língua Portuguesa 2019, os alunos da E. E. Sebastião Pereira Machado, concorram com produções textuais nos seus variados gêneros literários e ao passar pelo julgamento das comissões: Escolar, Municipal e Estadual, teve a redação da aluna Valquíria Aparecida Valentim, com o título “O Néctar dos Deuses” selecionada, compondo as 125 semifinalistas na Categoria Memórias Literárias.
A Aluna foi orientada pela professora Thábatta Ramos Cândido e sua classificação é motivo de orgulho à toda comunidade escolar, entendendo a abrangência e importância da Olimpíada.
A partir dessa colocação a aluna e professora tiveram a oportunidade de participarem juntas com mais 124 alunos (as) e 124 professores (as) semifinalistas de todo o Brasil, em São Paulo, nos dias 28, 29 e 30 de outubro de 2019, em oficinas na categoria Memórias Literárias, tendo oportunidade para troca de experiências, possibilitando a ampliação das habilidades de escrita e leitura dos alunos e ainda crescimento profissional dos docentes.
O néctar dos deuses
Aluna: Valquíria Aparecida Valentim – 7º 2
Professora: Thábatta Ramos Cândido
Hoje, quando sentei em minha varanda, senti o silêncio penetrar em minha alma. Mas toda essa calmaria foi ligeiramente transformada pelo apito do trenzinho, repleto de crianças sorridentes, que passava pelas ruas de Piranguinho anunciando que a cidade estava em festa. “Está acontecendo a festa mais doce do Brasil. Do maior pé de moleque que o mundo inteiro já viu...”. Esse refrão permitiu-me voltar no tempo e reviver o passado.
Comecei a trabalhar aos dez anos, mas não pense que minha infância foi roubada. Para quem acha que rapadura é doce, fique certo de que é doce, mas não é mole. Foram dias de luta que serão sempre lembrados com muito saudosismo. Depois de lutar junto com minha mãe contra os tachos ferventes de rapadura e amendoim, na casa da falecida Alceia Torino, eu também brincava muito. Enquanto o sol não tombava atrás dos enormes pastos verdejantes, eu não me recolhia.
Vivi momentos inesquecíveis naquela época.... Alguns faço questão de não lembrar, mas outros tenho muita nostalgia. Desmancho-me em risos quando lembro o dia em que a Dona Alceia, ao colocar os tabuleiros de doces para esfriarem na janela de sua casa, gritava com os garotos peraltas que ao sentirem o cheiro daquela mistura deliciosa, pegavam aquelas gostosuras e saiam correndo. Dona Alceia, furiosa com aquela molequice, gritava “ Pede, moleques, não precisa roubar. ” Mas eles saiam em disparada.
A combinação de rapadura e amendoim ainda não tinha nome. Decidiram, então, que esse “néctar”, como descreveu o escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade em uma de suas paradas na cidade, mas isso já faz muito tempo, que o doce se chamaria Pé de Moleque.
Doces feitos, dona Alceia arrumava tudo nos tabuleiros para eu vender na estação de trem da cidade. Eu aguardava a Maria Fumaça ansiosamente. E enquanto todos os doces não fossem vendidos, o senhor Modesto Torino que era chefe da estação e pai de dona Alceia, não dava partida.
Como é bom recordar... Sinto-me honrada em saber que meu trabalho não foi em vão. Jamais esquecerei que um dia contribui para a transformação da minha doce e querida cidade. A mistura da rapadura e do amendoim – combinação perfeita - trouxe fama para Piranguinho. Conquistou pessoas famosas e programas de tevê e a consagrou a Capital Nacional do Pé de Moleque.
Hoje os doces não são feitos mais caseiramente, os tabuleiros não ficam mais nas janelas para esfriarem, não preciso mais lutar contra os tachos ferventes de rapadura, pois tudo mudou…. Sou aposentada, minhas primaveras são muitas e ainda vivo nessa doce e pequena cidade. Apesar das mudanças, sou muito feliz, pois sei que Piranguinho já conquistou o mundo.